Quando deixamos a inocência de lado?
Pesquisas para uma estratégia de Natal que viraram uma reflexão sobre branding e a sociedade atual.
Voltei. Acho que agora, de vez.
Fui desafiada a usar a newsletter como uma verdadeira curadoria (afinal, o nome já é esse, não é mesmo?), mostrando a vocês como funciona a minha mente e o meu processo de pesquisa. Por isso, pretendo a partir de agora, trazer os estudos, as buscas e o repertório da semana toda quinta-feira, sempre às 7h da manhã de São Paulo.
E para que isso seja possível, trabalharei com reflexões mais curtas, mas com conteúdo aprofundado para vocês que, assim como eu, estão cansados de assuntos rápidos e vazios. E saiba que eu não vou trazer respostas. Vou trazer perguntas para vocês refletirem e pensarem junto comigo! Não quero leitores com respostas prontas; quero leitores instigados a pensar - e mais abaixo, eu volto a esse ponto.
Porém, antes de começarmos, se você ainda não me segue, clica no botão abaixo para não perder nenhuma novidade:
A magia do Natal
A última semana de pesquisa foi toda sobre essa época mágica do ano. Com a casa já decorada, Michael Bublé tocando e os filmes natalinos inspirando, meus pensamentos têm girado em torno de uma estratégia de Natal para o Francy Atelier.
Como nada começa sem pesquisa, o processo começou no papel, com palavras-chave como: calendário do advento, literatura, arte e estilo provençal.
Essa é a minha época preferida do ano e quero que vocês vivam essa magia junto comigo. Por isso, vou criar um Calendário do Advento de arte: 24 dias com uma ilustração diária, com histórias e elementos que envolvem o Francy Atelier.

Ainda estou estruturando tudo, mas o início será dia 01 de dezembro. Antes disso, vou compartilhar os detalhes no Instagram. Vale a pena me seguir por lá também.
O Calendário do Advento
Para criar um calendário de contagem para o Natal, é importante mergulhar em sua história - mais uma vez, reforçando o valor do Francy Atelier pelo conhecimento e pela profundidade.
Para quem não sabe, essa tradição começou no século XIX, quando protestantes alemães marcavam os dias até o Natal com giz nas paredes, velas e palhinhas no presépio. Durante a Segunda Guerra, essa prática se espalhou pela Europa e pelos EUA, ganhando versões com chocolates e, em 1970, a Cadbury lançou os primeiros calendários comerciais. O resto é história.
Essa não é a primeira vez que compartilho um Calendário do Advento autoral. Em 2021, criei um com 24 boas ações para fazer até o Natal. Apesar de adorar o lado comercial dessa época, como boa católica, o espírito de compaixão e salvação continua presente aqui em casa e nada melhor do que fazer caridade para fortalecer esses valores.

O calendário continua disponível para download. Vou deixar o link no final da newsletter para quem desejar baixar. Ele é gratuito e perfeito para fazer com as crianças.
O Ursinho Pooh
A segunda etapa dessa pesquisa se deu nas temáticas dos 24 dias. Decidi que como o meu universo gira em torno de arte, literatura e viagens, as temáticas abordarão esses 3 temas, com um gostinho extra das inspirações visuais que encontro pelo caminho. O objetivo é compartilhar conteúdos que aprofundem nossa comunidade, unindo pessoas com interesses e valores parecidos. Spoiler: um dos temas será o Ursinho Pooh.
Decidi trazê-lo para essa newsletter, pois ele me provocou uma reflexão muito importante - e me levou a ler 3 livros, 1 pesquisa e a assistir a 2 filmes em uma semana.
Pesquisando sobre Pooh, eu me deparei com o que se tornou o principal tema dessa newsletter: será que estamos perdendo a inocência? Ou será que a sociedade atual está banalizando assuntos importantes?
Calma lá que eu me explico.
Em dezembro de 2000, a Associação Médica do Canadá soltou uma pesquisa que dizia que os personagens da história de Winnie-the-Pooh eram retratos de doenças mentais - ainda podemos usar esse termo? - e que as histórias de A. A. Milne eram um alerta aos sinais em crianças.
A verdade é que os livros foram escritos na década de 1920, muito antes desses conceitos serem amplamente discutidos. A pergunta que fica é: será que Milne estava a frente de seu tempo ou a sociedade do século XXI tem necessidade de ver apenas o lado negativo nas coisas?
Por favor, não me entenda mal, essas doenças são sérias e precisam ser estudadas e acompanhadas, ainda mais em crianças. Mas me lembro das minhas primeiras experiências lendo e assistindo aos desenhos do Ursinho Pooh e a minha sensação era de amizade genuína e bondade. Pooh me parecia sempre estar disponível para seu amigos, nas mais diversas situações, e vice-versa.
As crianças de hoje, com excesso de informações e estímulos, talvez não tenham a oportunidade de olhar para Pooh e sua turma com os olhos inocentes com os quais a minha geração olhou. Uma pesquisa como essa antecede e mata as primeiras impressões, ainda que ela tenha o intuito de alertar.
O que mais me lembro nas histórias de Milne, muito mais do que problemas de comportamento, eram as frases profundas que um ursinho, dito sem cérebro, compartilhava conosco, como essa que é a minha favorita:
“Algumas pessoas se importam muito. Acho que isso se chama amor.” - A.A.Milne, Winnie-the-Pooh
A pesquisa canadense me deixou ainda mais intrigada quando falou de Christopher Robin. Para quem não sabe, os livros e o personagem foram inspirados no filho do autor, que carregava o mesmo nome.
Christopher me parece um menino criativo, cheio de energia e com um bom coração, que cuida e se preocupa com seus amigos e se diverte muito no Bosque dos 100 Acres. Os especialistas, no entanto, atribuem essas características a um menino ‘largado’, sem pais e sem regras, que exibe sinais de esquizofrenia por falar com animais.
Quando foi que deixamos as crianças pararem de sonhar e imaginar, atribuindo a elas sinais de loucura? Quando foi que ser criativo e ativo se tornou um problema e não uma solução?
Os anos 2000, não por acaso, vêem o boom da internet, da TV e dos aparelhos eletrônicos. Crianças passam a ficar presas em casa, ao invés de brincarem fora e de usarem a criatividade para passar o tempo. Tudo está pronto. Tudo é entregue em mãos. E o resultado disso eu já trouxe em outra newsletter: adultos cada vez mais depressivos e ansiosos.
Essa temática me fez pensar no lançamento do Trent Planner da MH Studios, que é sempre uma aula de marca autêntica. Vemos ali claramente um espaço de muita criatividade. Não ao acaso, Maria Helena - a fundadora e diretora criativa da marca - faz parte de uma geração que teve a permissão para sonhar e para criar.
O lançamento, entitulado Sonho n.274, é a prova de que uma infância em contato com o descobrimento é muito melhor desenvolvida do que uma infância que é formada pelo excesso de informação. O espaço foi tão genialmente criado e, quem acompanha Maria Helena, sabe que ele é a materialização de toda a sua mente, sua criatividade e suas vivências.
Eu tenho certeza que seu resultado vem do fato dela ter podido sonhar e falar com animais - se ela quisesse -, assim como Christopher Robin pode.
A falta da inocência e a busca incessante pela beleza
Quando digo que minha mente viaja longe, eu não minto. A falta de inocência me levou a pensar na adultização das crianças atuais e na busca incessante pela juventude e pela perfeição.
No domingo, Marcelo e eu decidimos assistir ao tão comentado “A Substância”, novo filme de Demi Moore. Aviso de antemão que o filme não é para qualquer pessoa. Ele é um terror psicológico que trabalha o grotesco com força. Eu mesma passei boas cenas do filme de olhos fechados (sou muito mais um filme do Ursinho Pooh, merci!).
Pensando em roteiro, o filme tem diversas falhas, mas não vou entrar nesse mérito. Vou focar na mensagem, que é o que importa hoje. Resumidamente, Demi Moore interpreta uma Jane Fonda da atual geração que está sendo jogada de lado por estar muito velha para a TV. Na busca incansável pela juventude, ela adere “à substância” e cria uma versão jovem de si mesma, a Sue.
Uma das mensagens do filme é até onde estamos dispostos a ir pela perfeição. Será que é mesmo tão ruim envelhecer?
Apesar da crítica se voltar ao universo televisivo e hollywoodiano, podemos perceber que essa busca tem atingido um número estrondoso de jovens em amplos contextos. Adolescentes de 11/12 anos preocupadas em fazer skincare, quando deveriam estar preocupadas em estudar, ler livros e brincar. Mães que vestem suas crianças com roupas de adulto e impedem que elas sejam apenas isso: crianças.
Mulheres mais novas do que eu (32 anos), que já fizeram tantos procedimentos estéticos que estão com aparência de 40 anos. Simplesmente, a geração Z perdeu a habilidade de parecer jovem (fonte: WWD - abaixo), mesmo que busque isso sem se cansar.
E aqui voltamos à essência: até onde o excesso de informação tem matado a inocência das nossas crianças? Até onde análises como as da Associação Médica do Canadá tiram aquele primeiro olhar de descoberta e de criatividade, adultizando crianças que precisam dessa fase para amadurecer e crescer?
Pablo Picasso tem uma famosa frase que diz “Todas as crianças são artistas. O problema é saber como elas permanecem artistas quando crescem”. E ao crescer antes da hora, o que acontece com a criatividade? Será que é por isso que a regra do digital é copiar, porque não se sabe mais criar?
A verdade é que não podemos pular fases. Todas elas são importantes.
A criatividade e o branding
A reflexão da vida sempre volta para o meu trabalho. Afinal, a maior regra do branding é, sem dúvidas, tempo.
Não pense que, ao desenvolver o branding da sua marca, ele será percebido em 1 semana. Nem 1 mês. Muitas vezes, nem em 1 ano. Branding tem a ver com reputação e ela não se molda em pouco tempo.
Muito menos, se desenvolve pulando fases e, aqui, voltamos à etapa da descoberta.
O desenvolvimento de uma marca (seja ela pessoal ou comercial) também leva tempo. Existe um processo de exploração interna, do que se deseja transmitir, da essência e história daquela marca e do conhecimento que há por trás da base - tudo isso, antes de qualquer estratégia ser aplicada.
A fase inicial precisa ser bem construída, para que o restante se desenvolva da forma correta. E ela precisa ter aquele olhar inocente de descoberta, sem a interferência de pessoas ditando regras generalizadas para comunicar isso ou aquilo.
O olhar profissional para a sua marca precisa ser de guia e não de fórmulas prontas. O verdadeiro profissional de branding vai te levar à clareza, vai selecionar as melhores estratégias para você com foco nos seus objetivos e vai te ajudar a conduzir a sua marca olhando para o seu propósito.
O desenvolvimento é apenas a primeira fase e, depois dela, virão outras que você não vai poder pular. Um investimento financeiro mais alto até pode te ajudar a acelerar os resultados, mas todas as fases precisam ser vividas.
Não deixe o excesso de informação matar o seu olhar de descoberta e a sua criatividade. Não acredite em gurus da internet que dizem que você pode construir o seu posicionamento em 30 dias e que você vai enriquecer prontamente após isso.
Volte-se para a infância. Leia As Aventuras do Ursinho Pooh, se for preciso. Reencontre a sua criança anterior e o artista que há em você. Não deixe fórmulas prontas matar o seu diferencial: você.
E essa é uma newsletter de pesquisa e de repertório, mas se você busca alguém para ajudar a desenvolver a sua marca, o Francy Atelier está de portas abertas. Eu quero transformar sua marca numa obra de arte.
—
Por fim, não deixe a minha opinião influenciar a sua, se aprofunde nas mesmas pesquisas que eu fiz. Links que podem te interessar:
A pesquisa da Associação Médica Canadense sobre os personagens de Winnie the Pooh - em inglês;
Os livros originais de A.A.Milne: Winnie the Pooh e House at Pooh Corner - ambos em inglês. Você encontra os livros traduzidos na Amazon Brasil.
Lançamento do Trent Planner, da MH Studios. Acompanhe tudo pelo Instagram.
Filme “A Substância”, disponível na Apple TV.
Artigo da WWD do porquê a geração Z está envelhecendo mais rápido - em inglês, mas você consegue fazer a tradução automática pelo Google.
Meu Calendário do Advento de boas ações - só clicar e baixar!
—
Merci por me ler meus devaneios até o final. Até a próxima semana.
Bisous,
Francy.
Eu sou suspeita para falar da sua news, porque tudo o que você faz é com extrema excelência.Mas esse tipo newse encanta, porque tem muitos questionamentos relevantes que precisam ser faladas e que você foi muito assertiva em trazer... A MH tá aí para provar como tudo que se imagina pode ser criado e sabe fiquei reflexiva , talvez nossa geração possa ser a última a explorar os sonhos e a criatividade, fico pensando sobre a gen Z, e me perguntando, o que nossa geração também tem feito para que a geração futura não se perca, sera que não nos estamos adaptado a eles, pelo fato de que eles acabam "ditam" a regra do mercado !? é complexo como tudo isso irá se desenvolver futuramente...
Simplesmente amei essa edição, Fran! Eu me lembrei muito do Peter Rabbit, da Beatrix Potter e todo o seu talento como escritora e ilustradora. Quem sabe também não te traga inspiração para a criação dessa sua nova obra de arte natalina. Também fiquei encantada pelo lançamento do Planner da MH Studios e todo o universo onírico. Sou uma apaixonada pelos sonhos...Recentemente revi o filme da "Alice no País das Maravilhas" e me deixei ser encantada pelas aventuras dos personagens. É tão importante ter esse olhar curioso da nossa infância pelo mundo e sermos surpreendidos diariamente, né? Obrigada por me lembrar disso com essa edição ;)