Seu repertório, seu olhar
Como a forma que você enxerga o mundo te conecta com as pessoas certas
A inspiração para essa newsletter veio depois da leitura de Para Onde Vamos (link no final), um guia do Bits to Brands em parceria com a WGSN. O conteúdo é riquíssimo, mas um tema em especial tem me chamado atenção: como nossa visão de mundo influencia a construção de comunidades.
Essa não é uma novidade—desde os primórdios, buscamos pertencimento. O ser humano tem um desejo instintivo de encontrar os “seus”, porque sabemos que não podemos existir sozinhos. No entanto, em um cenário de excesso de estímulos e informações nas redes sociais, estabelecer conexões genuínas e despertar desejo por marcas tem se tornado um desafio.
Como explica Beatriz Guarezi em Para Onde Vamos:
“Diante do excesso de estímulos, com consumidores recebendo em média 121 mensagens promocionais por mês, engajar e criar vínculo emocional tem sido um desafio para as marcas. Com 70% da Geração Z relatando dificuldade para encontrar marcas e produtos relevantes (Tumblr/Archrival), a cultura digital descentralizada popularizou interesses de nicho como padrão.
Em 2023, o relatório “Previsão de Marketing 2025” da WGSN destacou o conceito de MVC (“Minimum Viable Community”, ou “Comunidade Mínima Viável”), como um novo padrão de construção de marca. Identificar fãs, criar senso de comunidade e interagir diretamente por meio de referências de nicho serão estratégias-chave.
Os fandoms (as comunidades de “consumidores-fãs”) se consolidam como estratégia essencial para marcas e criadores de conteúdo, tornando-se uma métrica obrigatória de sucesso nos próximos anos.” - pág. 21.
É por isso que, cada vez mais, profissionais de branding reforçam a importância da cultura dos nichos. Escolher um grupo — que, como a Beatriz destaca no mesmo documento, não é mais definido por idade — tornou-se essencial para o crescimento das marcas.
Talvez seja esse o motivo pelo qual pequenos hábitos estão conquistando o mundo. O TikTok tem um papel fundamental nisso, ajudando a viralizar tendências que, até pouco tempo, eram quase inacessíveis. O matcha, por exemplo, que há um ano era difícil de encontrar, hoje já pode superar o café em vendas em algumas cidades (a wellness mania agradece). O mesmo acontece com os clubes do livro, que não apenas se multiplicam, mas também se diversificam cada vez mais.
No fim das contas, as pessoas querem encontrar pessoas para viver uma vida mais leve e autêntica, compartilhando gostos e valores em comum.
A minha tribo (e será que você se identifica?)
Nem preciso dizer que a minha tribo é a da arte. Passo horas em museus, mergulho em livros dos mais variados temas (sou da tribo dos clubes também!) e crio minha própria arte (como hobby e como trabalho).
A arte molda minha forma de ver o mundo e me ensina muito sobre a sociedade. Se você ainda não leu minhas newsletters antigas, te convido a explorar — elas mostram como a arte reflete o presente e até nos dá pistas sobre o futuro. Mais do que inspiração, a arte é um excelente objeto de estudo.
Se você aprecia arte — de qualquer época ou cultura — e valoriza a beleza, então bem-vindo(a) ao clube do Francy Atelier!
E já que estamos falando sobre tribos e sobre minha missão de estimular um olhar mais crítico e autêntico, hoje quero compartilhar com você meu método para transformar horas em museus em pura criatividade. Porque, acredite, revisitar obras do passado nunca é tempo perdido.
Vamos lá? Um pouco mais tarde hoje, mas sem esquecer nosso ritual: dá um play na música de fundo e aproveite a leitura. On y va!
Por que passo horas em museus (e como isso pode transformar sua criatividade)
Se você me ver em um museu, provavelmente serei aquela pessoa que fica tempo demais diante de uma pintura, inclinando a cabeça para captar cada pincelada. Ou quem observa uma escultura por quase uma hora, tentando entender como o artista conseguiu torná-la tão viva.
Para mim, museus não são apenas espaços para admirar arte, mas verdadeiras aulas de design, criatividade e sensibilidade. Cada visita me ensina algo novo e, hoje, quero compartilhar como essas experiências podem expandir seu repertório e desenvolver suas soft skills.
O poder dos detalhes: a arte de enxergar
Já parou para observar de perto um Van Gogh e notar como cada pincelada cria um movimento quase hipnótico? Ou perceber como, em uma pintura renascentista, cada sombra e dobra do tecido foi meticulosamente planejada?
Esses momentos me lembram que grandes criações nascem dos detalhes. No design, na arte ou até mesmo na escrita, são as pequenas escolhas que fazem a diferença. A curva de uma letra, o espaço entre os elementos, a textura de um material – tudo comunica.
Quando foi a última vez que você fez seu trabalho com verdadeira atenção aos detalhes? Que criou algo sem cair no piloto automático?
Observar a arte é mais do que um momento de contemplação — é um exercício de presença, análise e sensibilidade. Em um mundo onde tudo é rápido e descartável, esses elementos se tornam cada vez mais raros e, ao mesmo tempo, mais valiosos. Treinar esse olhar não apenas aprimora sua percepção estética, mas também refina sua capacidade de enxergar nuances, conectar ideias e criar com mais profundidade.
EXPERIMENTE: Da próxima vez que estiver criando algo, aproxime-se. Observe os detalhes que poderiam passar despercebidos e veja como eles elevam seu trabalho.
Inspiração através do tempo: aprendendo com o passado
Museus são verdadeiros mapas da evolução estética. Do exagero dramático do Barroco à simplicidade do Modernismo, cada movimento artístico reflete sua época e as mudanças culturais que a moldaram. A arte nunca surge do nada — ela é resposta, ruptura ou continuidade do que veio antes.
Entender essas transições me fez perceber que um design atemporal não ignora seu contexto. Pelo contrário: ele dialoga com sua época, absorve influências e, ao mesmo tempo, se reinventa. Foi assim com Coco Chanel, por exemplo.
Ao observar as mudanças sociais no pós-guerra e a crescente busca das mulheres por liberdade, ela rompeu com os excessos da Belle Époque e introduziu linhas simples, cores neutras e tecidos mais leves. Seu olhar atento ao momento histórico resultou em um estilo que se mantém relevante até hoje.
Esse aprendizado se aplica diretamente à construção de marcas. Ao analisar um público, pergunte-se: de que época ele é? O que aprecia? O que estava acontecendo quando ele nasceu? A arte pode responder essas perguntas de forma intuitiva — basta observá-la com profundidade. É como assistir a uma aula de história sem precisar abrir um livro.
EXPERIMENTE: na próxima vez que precisar de inspiração, olhe para trás. Como um artista do passado lidaria com seu desafio? Quais elementos você pode resgatar e transformar em algo novo? O futuro da criação está sempre em diálogo com o passado.
Você pode ler mais sobre isso na minha última newsletter: O que acontece quando paramos de criar?
Histórias que se revelam: o coração da criação
Toda obra de arte conta uma história. Uma pintura pode capturar um momento histórico, uma escultura pode transmitir emoções sem precisar de palavras, e uma peça de design pode comunicar uma mensagem antes mesmo de ser lida. A arte não é apenas estética; ela é significado, intenção e contexto.
O mesmo acontece no design, na comunicação e em qualquer área criativa.
Uma identidade visual não é apenas um conjunto de formas e cores — é a essência de uma marca traduzida visualmente. Um pôster não é só uma imagem bonita; ele é um convite para sentir algo, para se conectar com uma ideia. Pense no icônico cartaz Hope de Shepard Fairey, que imortalizou a campanha de Obama em 2008. Com apenas três cores e um traço simples, ele evocou esperança e transformação. A força da peça não estava apenas no design, mas na emoção que transmitia.
EXPERIMENTE: olhe para sua própria criação e pergunte-se o que ela quer dizer sem palavras? Que emoção ou mensagem ela carrega? A resposta pode transformar não apenas o seu trabalho, mas a forma como ele é percebido.
Construindo um repertório criativo
Museus nos expõem a um repertório vastíssimo de referências. Pinturas impressionistas, arte sacra medieval, instalações contemporâneas — cada obra acrescenta novas camadas ao nosso arquivo mental, prontas para serem acessadas quando precisarmos de ideias.
Muitas vezes, ao enfrentar um bloqueio criativo, lembro-me da suavidade de uma paleta de cores em um Monet ou da composição ousada de um Picasso. Essas referências não estão apenas no passado; elas continuam influenciando artistas de diversas áreas.
O fotógrafo Tim Walker, por exemplo, é conhecido por suas imagens oníricas e cinematográficas, muitas vezes inspiradas em pinturas clássicas. Suas composições teatrais e paletas de cores remetem ao universo pré-rafaelita, enquanto suas narrativas visuais evocam o surrealismo de Dalí. Ele traduz a essência da arte em fotografia, criando imagens que parecem pinturas contemporâneas.

As referências estão sempre ali, esperando para serem resgatadas e reinterpretadas. Basta observar com atenção.
EXPERIMENTE: Expanda seu repertório. Visite exposições, explore diferentes estilos e permita-se absorver influências inesperadas. Sua criatividade vai agradecer.
Museus como salas de aula
Mais do que inspiração, museus nos ensinam sobre história, cultura e expressão humana. Eles nos lembram que criar não é apenas estética, mas também conexão.
Sempre saio de um museu sentindo que minha mente se expandiu, como se tivesse feito um “reset criativo”. E isso vale para qualquer área, não só para artistas ou designers. Afinal, todo mundo precisa de criatividade para sair do óbvio e encontrar soluções para problemas diários.
EXPERIMENTE: Reserve um tempo para buscar inspiração, seja em um museu, em um passeio ao ar livre ou em uma boa conversa. Essas pausas são essenciais para manter a criatividade fluindo.
Um desafio para você
Agora quero saber de você: qual é sua maior fonte de inspiração? Você tem um ritual ou um lugar especial que desperta sua criatividade? Me conte – estou sempre em busca de novas perspectivas!
E se faz tempo que você não visita um museu, fica aqui o convite: vá sem pressa, observe de perto e deixe a arte falar com você. Tenho certeza de que você sairá com novas ideias e um olhar renovado.
Para aumentar o seu repertório:
Inscreva-se na newsletter da Bits to Brands, que traz tendências em doses semanais;
Leia o Para Onde Vamos, com as 6 principais tendências para 2025;
Conheça o instagram da The Summer Hunter, que traz doses diárias de notícias e tendências;
(adicionado de última hora como sugestão da Suellen Gargantini e eu amei) Inscreva-se na newsletter da Andressa Schneider, a The Spritz Hunting Club.
Obrigada por ler até aqui.
Até a próxima – e continue criando!
Bisous, Francy.