A intensidade de ser você mesmo
Como a paixão é o melhor caminho para trazer a sua autenticidade à tona e te diferenciar na multidão
Chegamos ao fim do minimalismo.
Ou, pelo menos, é o que alguns reports de tendência estão apontando.
Na última semana, enquanto lia a um report específico e fazia pesquisas para projetos de clientes, cheguei a uma conclusão que não poderia ser mais atual: a maior tendência de 2025 é ser você mesmo.
Mas, aí vem a pergunta: até que ponto ser você é demais? Será que essa obsessão por autenticidade pode nos fazer parecer "malucos"? Ou, talvez, essa paixão em mostrar quem somos seja, na verdade, o que nos define de verdade?
Confesso que comecei essa newsletter de forma mais filosófica, mas com um propósito: quero te levar a refletir sobre quem você quer ser em 2025.
Então, antes de mergulharmos nos insights e inspirações, te convido a dar play na música da semana para embalar a leitura. On y va?
Antes de continuar, se você ainda não acompanha a minha newsletter, eu te convido a assinala para ficar por dentro de muito repertório sobre arte, leitura e branding.
Pinterest Predicts 2025: chega de minimalismo!
O tema de hoje nasceu principalmente deste report e estou animada em dizer: teremos uma folga do minimalismo. Finalmente!
Com muito exagero e arte, o que esse report deixou claro é que chegou a hora de sermos nós mesmos. Se você é uma deusa apaixonada por dourado ou uma entusiasta do rococó moderno, este é o seu momento de brilhar.
O mais interessante? É a confirmação, caso você ainda não tivesse certeza, de que as comunidades se formam por identificação.
Quem ama a era medieval encontra sua tribo medieval. Quem é princesa, mas também tem um lado motoqueira, já tem seu grupo garantido. O que une as pessoas - desde sempre e agora mais do que nunca - é a autenticidade e o prazer de sentir algo genuíno.
Como bem aponta Beatriz Machado em seu próprio artigo sobre trends de 2025, a maior tendência do ano é o prazer. Depois de anos presos no minimalismo e na falta de cor, o desejo por experiências com sentimentos verdadeiros é o que move o momento. E quanto mais rápido você mostrar quem você é e a qual “tribo” pertence, mais fácil será formar sua própria comunidade.
E isso já está refletido nas marcas de luxo. Até a Loro Piana, conhecida por seu estilo quiet luxury, está reforçando sua comunicação com uma abordagem mais emocional. Eles têm lançado pequenos manifestos que celebram sua produção artesanal e seu savoir faire. Apesar de manterem sua essência discreta, destacam a história e a paixão por trás de cada peça. No fim, voltam às suas raízes: aquilo que os definiu no início ainda é a base do que fazem hoje.
Dá play para conferir esse movimento, mas não esqueça de voltar aqui para continuarmos nossa reflexão.
A Loro Piana deixa claro que é a paixão que faz nascer uma marca, mas é a fidelidade à sua essência e tradição que a mantém forte no mercado.
Quando falamos de marca pessoal, isso é ainda mais evidente. Mais do que tradição, para se manter relevante, é preciso ser fiel à sua história e à paixão que te move. É essa autenticidade que conecta, engaja e faz sua comunidade crescer.
Molly, the Maid, e sua paixão pela organização
E aqui trago um exemplo de “marca pessoal” a partir de um livro que me fez sentir inúmeras emoções.
The Maid, de Nita Prose, é o primeiro livro da autora, lançado em 2022. O sucesso foi tão grande que ela já está no quarto volume – e eu aqui me segurando para não comprar os outros três de uma vez!
O que mais me emocionou na história foi a própria protagonista, Molly. Inteligente e apaixonada por ordem e limpeza, Molly é camareira no Regency Grand Hotel, um luxuoso hotel cinco estrelas em Toronto, Canadá.
Molly é diferente. Criada por sua avó, ela cresceu assistindo a filmes e lendo histórias clássicas. Sua visão de mundo é marcada por essa criação, o que a torna ingênua e incapaz de interpretar certas expressões humanas, como sarcasmo, ironia ou mesmo maldade. Essa característica a coloca em uma situação complicada: um assassinato ocorre no hotel, e Molly precisa provar sua inocência.
Embora o livro não mencione explicitamente que Molly tenha algum transtorno, suas peculiaridades lembram o famoso Sheldon Cooper, de The Big Bang Theory – mas com um toque de doçura e mais educação. Afinal, sua avó a ensinou a nunca julgar e sempre acreditar no melhor das pessoas.
Molly é apaixonada por limpeza e organização, e faz seu trabalho com excelência e alegria. Contudo, por sua conduta formal (influenciada pelos clássicos que moldaram sua visão de mundo) e seu amor pelo que faz, muitos ao seu redor a veem como “esquisita”.
Ela sabe que é diferente, mas não entende por que isso incomoda tanto os outros. Para Molly, limpar não é apenas uma tarefa: é uma forma de servir, de fazer o melhor pelos clientes e pelo hotel.
E aqui entra uma grande reflexão: a paixão por algo muitas vezes assusta as pessoas. Quem não sente paixão por nada, ou não a demonstra, tende a estranhar aqueles que vivem com entusiasmo. No caso de Molly, seu amor por algo aparentemente simples – limpar a “sujeira alheia” – a torna única, ainda que os outros a julguem por isso.
O que torna Molly especial é justamente sua autenticidade. Ela sabe quem é, aceita sua diferença, não se preocupa para o que os outros pensam e permite que sua paixão a guie.
Quando penso em outros personagens marcantes da literatura, do cinema ou até mesmo da vida real, noto um padrão claro: são o autoconhecimento e a paixão por um ideal que os tornam inesquecíveis. Trago aqui dois exemplos:
Leonardo Da Vinci
Leonardo da Vinci era movido por uma paixão insaciável pelo conhecimento e pela perfeição. Tão apaixonado, que decidiu estudar anatomia dissecando corpos em necrotérios – algo que, na época, era profundamente ligado à Igreja e considerado um crime.
Ele não queria apenas pintar. Ele queria pintar com perfeição. E, para isso, precisava de um entendimento anatômico que simplesmente não existia nos livros de sua época.
Esse desejo por conhecimento fez com que Da Vinci não apenas revolucionasse a História da Arte, mas também deixasse um marco na História da Medicina.
Na época, Da Vinci foi julgado pela Igreja Católica como herege e bruxo por violar corpos – uma prática que, além de criminosa, era vista como profana. Ainda assim, foi essa paixão avassaladora que o impulsionou a desafiar os limites de sua era e o consagrou como um dos maiores gênios da história.
A paixão por algo pode assustar, mas é justamente ela que nos move e nos torna inesquecíveis.
Dolce & Gabbana
Aproveitando que a Semana de Moda Masculina de Milão acabou de acontecer, trago um exemplo desse universo que gera tanto amor quanto polêmica: os (não tão) queridos Dolce & Gabbana.
Uma marca que, como todas as outras, já teve seus altos e baixos, mas que prova, a cada coleção, que mesmo acompanhando tendências como o quiet luxury, nunca perde suas raízes sicilianas. Prova disso é o grande sucesso da exposição “Dal Cuore Alle Mani”, que está atualmente em Paris, mas já passou por Milão – onde tive a oportunidade de ver de perto como a paixão pelo excesso é o verdadeiro motor da marca.


Você pode até não gostar, mas é impossível ignorar o impacto de tudo o que Dolce & Gabbana construíram até hoje. Apesar de suas controvérsias, a marca sabe se comunicar perfeitamente com homens e mulheres que abraçam um estilo extravagante.
Eles conhecem o público que desejam alcançar e, ainda que se adaptem às tendências, a essência e a paixão pelo “extra” continuam sempre evidentes. É isso que torna Dolce & Gabbana uma marca tão identificável e, ao mesmo tempo, única.
Agora, com a volta do maximalismo, a última coleção da marca recebeu grandes elogios e admito que até eu, que tenho minhas ressalvas para os criadores, adorei o resultado. Vou deixar aqui uma review que gostei de assistir, pois traz também o conceito do desfile:
Qual a paixão que te move?
Essa é uma pergunta que sempre faço aos meus clientes quando tenho a oportunidade de realizar um briefing 1 a 1 com eles. E, honestamente, é de onde saem as melhores respostas!
Eu mesma já tive muito medo de mostrar minha paixão: a arte. É um assunto que sei que nem todo mundo aprecia, e muitos, de cara, reagem com o famoso “eu não entendo nada do assunto”.
Cresci em um estado onde mal existem museus, então sei bem como a relação das pessoas com a arte, especialmente no Brasil, pode ser distante. Por muito tempo, tive receio de parecer aquela pessoa que só sabe sobre um único tema - e se torna a “chata do grupo” por isso.
A verdade, claro, é que posso conversar sobre diversos assuntos. Aqui em casa, por exemplo, a última coisa sobre a qual conversamos é arte. Mas meu marido sabe o quanto amo museus e respeita isso. Curiosamente, quando nos conhecemos, eu me segurava para não falar muito sobre o tema, com medo de parecer intensa demais.
Como disse antes: a paixão assusta.
Até que conheci a Suellen Gargantini e em praticamente todo encontro da CAB, nossa querida Comunidade de Branding Avançado (RIP 🥹), ela dizia para parar de esconder quem realmente éramos e começar a mostrar a nossa verdadeira essência. E assim o fiz.
A arte faz parte de quem eu sou. Então, deixei o medo de lado e comecei a compartilhar mais sobre arte.
Mas aí vem uma lição importante: a paixão precisa estar alinhada com o seu objetivo final. Eu queria ser reconhecida como artista, mas percebi que, mesmo falando muito sobre arte, estava mostrando pouco da minha própria arte.
Num encontro mais recente com a Suellen, em novembro, quando a procurei por um direcionamento mais claro, ela me disse algo que ficou gravado: “Seu erro está aí. Falta mostrar que você é artista.”
E aqui veio uma segunda etapa dessa mudança. Hoje, quem me acompanha sabe que verá arte TODO DIA: muita da minha própria arte, um pouco dos meus estudos, e momentos em museus. Claro, tudo na medida certa, porque eu sei que a paixão assusta. 🙃

É exatamente por isso que faço essa pergunta aos meus clientes, especialmente quando a paixão deles não é óbvia ou quando percebo que têm vergonha de expor aquilo que os move. Quando a resposta vem, consigo ver os olhos deles brilhando — e é ali que sei que encontrei a sua verdadeira paixão.
Mas também pergunto sobre objetivos e metas, porque paixão sozinha não sustenta uma marca. É preciso entender se o que os move está alinhado com o caminho que querem trilhar. E assim como fui guiada sobre esse assunto, faço o mesmo pelos meus clientes, mesmo aqueles que vão fazer “apenas” uma identidade visual.
Muitas pessoas pensam que isso se refere apenas a um logo, mas é justamente aqui que começamos a conectar esses dois pontos essenciais: paixão e objetivo.
No primeiro projeto de 2025, tive a chance de viver isso intensamente, inclusive a parte sobre o medo de expor uma paixão de imediato.
A marca que atendi foi a Luz de Peônia. Ela me procurou inicialmente por causa da estampa, que é um dos meus diferenciais. Mas, ao conversar, percebemos que ela precisava mesmo de uma identidade completa.
No briefing, falamos sobre paixões e objetivos. Antes mesmo da reunião, já imaginava uma estampa rica de peônias, uma flor repleta de significados e alinhada aos valores da marca. Que, além disso, é belíssima. Mas a cliente tinha, naquele momento, uma outra visão e queria seguir uma linha diferente.
Como profissional, sempre tento alinhar o desejo do cliente ao objetivo estratégico da marca. Afinal, não quero apenas que fiquem satisfeitos — quero que tenham uma marca efetiva, que funcione. Nesse caso, segui a direção que ela desejava. A estampa ficou linda, mas faltava algo. Ao olhar para o resultado, ela percebeu que a essência, a paixão pela peônia, estava ausente.
Foi aí que, numa segunda tentativa, mergulhamos de verdade na paixão dela. E o resultado foi este:
Era exatamente isso que eu imaginava para a marca desde o início, e ela percebeu que era isso que realmente queria também. A primeira ideia era criar algo dentro do conceito de quiet luxury, que, embora lindo, acabaria deixando de lado parte importante de sua história.
Esconder a paixão que se tem — no caso dela, pela flor e por tudo o que está construindo — para seguir o que acham que você deveria comunicar ou o que dizem que você deveria fazer, é o primeiro passo para o fracasso. Ou, no mínimo, para uma marca sem direção.
Eu mesma aprendi que deixar a arte de lado apagaria uma parte essencial de quem sou. Da mesma forma, apagar a riqueza e o simbolismo das peônias na estampa da Luz de Peônia seria um erro estratégico para a marca.
O resultado, apesar de não ter sido inspirado por Dolce & Gabbana, trouxe algo igualmente poderoso: a paixão da marca pela riqueza de detalhes e pela expressão de uma cultura cheia de significados.
A verdade é que o que destrói o nosso autoconhecimento — e a nossa essência — é tentar ser quem achamos que os outros querem que sejamos.
Por isso, fica aqui uma lição importante para o seu 2025: não deixe ninguém apagar a intensidade de ser quem você realmente é. Deixe a sua paixão falar mais alto, guie suas decisões por ela e seja fiel à sua essência. Afinal, é na autenticidade que se constrói algo verdadeiramente único e inesquecível.
Para aprofundar o conhecimento:
Para ler: as tendências do Pinterest para 2025;
Para descobrir: Leonardo da Vinci e seus estudos anatômicos (em inglês!) que mudaram o rumo da medicina;
Para conhecer: mais detalhes da exposição de Dolce & Gabbana: Dal Cuore Alle Mani;
Para assistir: Coco Antes de Chanel - na Netflix. Falando de paixão, nada como um dos maiores nomes da moda para nos inspirar.
E se você precisa transmitir a sua paixão através de uma identidade visual, conte comigo. Basta preencher o formulário e eu terei o maior prazer de te explicar como funciona o meu processo.
No mais, só desejo que você possa deixar de lado os stigmas e mostrar ao mundo quem realmente você é!
Nos vemos novamente na semana que vem.
Bisous,
Fran.
Que delícia de leitura para esse início de ano, um momento tão importante para reavaliarmos nossos passos até aqui. Sigo aprendendo a ser mais eu com você!